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Vozes Africanas na História e na Arte de Minas Gerais

Atualizado: 14 de abr.


 

A história de Minas Gerais está profundamente marcada pela presença de homens e mulheres africanos e afro-brasileiros que contribuíram de forma decisiva para a construção cultural, artística e social do estado.


Ouro Preto — antiga Vila Rica — foi palco e testemunha de muitos desses feitos. Uma página importante da nossa identidade que merece ser celebrada todos os dias.


Se você deseja conhecer mais sobre a nossa história afro em Minas Gerais, te convido a descobrir alguns personagens de grande relevância. Homens e mulheres que são símbolo de criatividade e talento, cujos legados continuam vivos nas ruas, igrejas e na memória coletiva de Minas. Vem saber mais:


Neste post:




O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Obra-prima de Aleijadinho. Foto: Instituto Afro.
Os 12 Profetas do Antigo Testamento no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Obra do Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Foto: Instituto Afro.


Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho


Talvez o nome mais conhecido da arte colonial brasileira, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, nasceu em Ouro Preto (então Vila Rica), por volta de 1730. Filho de um mestre de obras português com uma africana alforriada, Aleijadinho teve uma vida marcada pela genialidade e pela superação.


Escultor, entalhador e arquiteto, suas obras são consideradas o ponto culminante da arte religiosa em Minas. Mesmo acometido por muitas doenças, dentre elas uma enfermidade degenerativa — que lhe teria deformado o corpo, dando origem ao apelido “Aleijadinho” — continuou a trabalhar em obras que mudaram definitivamente a arte religiosa no Brasil.


Entre suas obras mais emblemáticas estão os 12 Profetas do Antigo Testamento em Congonhas do Campo e o projeto arquitetônico das igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto. O Mestre Antônio Lisboa é símbolo máximo expressão artística religiosa no Brasil colonial.


Curiosidades: Você pode conhecer mais sobre os artistas afro-brasileiros de diferentes épocas e regiões do Brasil através do site do Projeto Afro. Acesse aqui.


 


Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Foto: Melhores Destinos.
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Foto: Melhores Destinos.

José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita


Natural do Serro, José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita nasceu em meados de 1746 e se destacou como um dos principais nomes da música sacra do período colonial. Organista, compositor e regente, foi autor de missas, ladainhas e outros gêneros litúrgicos que hoje integram o cânone da música barroca brasileira.


Sua trajetória revela a importância da população afro nas manifestações artísticas e religiosas da época. Lobo de Mesquita atuou em diversas cidades mineiras, especialmente em Ouro Preto, onde ingressou na Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo. Ainda em Vila Rica, foi um dos regentes da liturgia da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, cargo que atesta sua influência dentro da sociedade da época, que não permitia o ingresso de filhos de escravizados em postos de regência.


Seu legado permanece vivo em festivais de música antiga e em arquivos musicais preservados por irmandades religiosas. Sua música, densa e expressiva, representa um elo entre a fé e a arte.


Curiosidades: a obra de Lobo de Mesquita é considerada uma das mais belas do período colonial das Américas, sendo executada e estudada em diferentes conservatórios musicais do mundo inteiro. Você pode conferir uma de suas obras no vídeo abaixo:




 

Mestre Valentim da Fonseca e Silva


Outro grande nome afro da arte colonial brasileira é o de Mestre Valentim. Filho de um português com uma escravizada alforriada, Valentim nasceu em Minas Gerais em 1745, num vilarejo próximo a cidade do Serro, mas foi no Rio de Janeiro que ele se destacou como escultor, urbanista e entalhador, se tornando um dos maiores nomes das artes de sua época.



O chafariz do Mestre Valentim, no antigo Passeio Público do Rio de Janeiro. Foto: Wikicommons.
O chafariz do Mestre Valentim, no antigo Passeio Público do Rio de Janeiro. Foto: Wikicommons.

Diferente de Aleijadinho, que concentrou sua atuação em Minas, Mestre Valentim foi figura central na transformação urbana do Rio de Janeiro no final do século XVIII. Trabalhou no projeto de modernização do Passeio Público e produziu obras religiosas de rara beleza, como os elementos em talha dourada para igrejas cariocas. Suas obras hoje fazem parte do circuito histórico do Rio de Janeiro e representam a era de ouro da arte colonial naquela cidade.


Sua trajetória é testemunho da força da arte afro como ferramenta de ascensão e permanência histórica.



O julgamento de Filipe dos Santos (1923), obra de Antônio Parreiras. Foto: Wikicommons.
O julgamento de Filipe dos Santos (1923), obra de Antônio Parreiras. Foto: Wikicommons.

 

Francisca Mina


Francisca Mina foi uma mulher africana escravizada que viveu em Vila Rica, atual Ouro Preto, durante o início do século XVIII. Originária da Costa da Mina — região que compreende os atuais Benin, Togo e sudoeste da Nigéria —, ela foi trazida ao Brasil provavelmente no início desse século, período em que muitos africanos dessa área foram traficados para trabalhar nas minas de ouro de Minas Gerais devido ao seu conhecimento na mineração. ​

 

Durante séculos, seu nome foi esquecido pela história brasileira. Apenas a partir dos novos estudos sobre a Sedição de Vila Rica, ocorrida em 1720, é que sua importância foi resgatada.


Durante a insurreição contra a Coroa Portuguesa devido à implementação das Casas de Fundição e a cobrança de impostos sobre o ouro, Francisca Mina desempenhou um papel significativo ao convencer outros escravizados a se unirem aos colonos rebeldes, formando uma aliança rara entre diferentes segmentos da população local. ​


Documentos históricos apontam que Francisca mantinha uma relação próxima com Filipe dos Santos, líder da revolta. Embora a rebelião tenha sido reprimida e seus líderes punidos, a participação de Francisca Mina destaca a atuação ativa das mulheres escravizadas nos movimentos de resistência contra a opressão colonial.


Em maio de 2023, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Tecnologia da prefeitura de Ouro Preto implantou o projeto de Hub de Inovação e Tecnologia que leva o nome de Francisca Mina.


Curiosidades: O projeto Impressões Rebeldes, desenvolvido pela Universidade Federal Fluminense, busca resgatar a memória de inúmeros personagens apagados da história brasileira. Você pode saber mais sobre Francisca Mina e outros nomes da cultura afro através deste link.



Efigênia Carabina em Ouro Preto. Foto: João Paulo Teluca Silva/Jornal Voz Ativa.
Efigênia Carabina em Ouro Preto. Foto: João Paulo Teluca Silva/Jornal Voz Ativa.

 

Efigênia Carabina


A história de protagonismo afro em Minas Gerais vai muito além do período colonial. Efigênia Carabina é um exemplo de cidadania dentro da nossa história mais recente.


Efigênia dos Santos Gomes, conhecida como Efigênia Carabina, foi uma das figuras mais emblemáticas de Ouro Preto. Reconhecida por sua atuação como sambista, compositora, cantora e líder comunitária, ela nasceu em 21 de abril de 1947, em Ouro Preto, descendente de um bisavô angolano que foi escravizado na cidade vizinha de Mariana. ​


Ao longo de mais de quatro décadas, Efigênia dedicou-se à luta pelos direitos das mulheres e da população afro em sua comunidade. Ela foi fundadora da Federação das Associações de Moradores de Ouro Preto (FAMOP) e presidiu o Movimento Negro Restaurador Jair Afonso Inácio, por meio do qual organizou, por mais de 20 anos, o desfile da Beleza Negra, evento que celebrava a cultura afro-brasileira. ​


No campo artístico, Efigênia destacou-se como sambista e compositora, sendo considerada a madrinha vitalícia do Carnaval de Ouro Preto. Sua contribuição para a cultura local foi reconhecida em 2017, quando recebeu a Medalha da Inconfidência das mãos do então governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. ​


Efigênia Carabina faleceu em 20 de janeiro de 2019, aos 71 anos. Sua morte representou uma grande perda para a comunidade de Ouro Preto, que a homenageou de diversas formas. O Centro de Apoio à Mulher da cidade recebeu seu nome, e um dos bonecos do tradicional bloco carnavalesco Zé Pereira dos Lacaios foi criado em sua homenagem. Em 2021, foi instituído o Dia Municipal da Mulher Negra "Efigênia Carabina", celebrado em 25 de julho. ​


Sua trajetória inspira a continuidade da luta por igualdade e justiça social, sendo lembrada como uma líder comunitária incansável e uma artista talentosa que deixou um legado duradouro em Ouro Preto.​


Para conhecer mais sobre Efigênia Carabina, assista ao vídeo abaixo:




 

Resumo


A presença afro em Minas Gerais não se resume a nomes individuais. Ela é a base de muitos dos saberes, troca de conhecimentos e manifestações que hoje reconhecemos como parte do patrimônio cultural mineiro. Desde a música barroca das irmandades, passando pela arte sacra e pelas festas populares, até os modos de fazer, construir, cozinhar, rezar e cantar — tudo carrega a marca da cultura africana.


Celebrar essas figuras é reconhecer a importância da contribuição africana na construção do que chamamos de identidade mineira. É também um convite à valorização contínua da história afrodescendente em Minas Gerais, promovendo a preservação dos espaços, das memórias e dos saberes que resistiram ao tempo.

 

A cultura afro-mineira é um farol que ilumina não apenas o passado, mas também as possibilidades de um futuro mais justo, plural e consciente de suas raízes.


E se você deseja conhecer mais sobre a rica história das cidades mineiras, não deixe de conferir meus passeios. Através de um olhar atento aos caminhos da cultura brasileira, desbravaremos esse livro aberto cheio de personagens incríveis. Tenho certeza que você irá se encantar. Para saber mais, clique no botão abaixo. Até breve!




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